sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Porque sim!


"no tempo em que éramos felizes não chovia.
levantávamo-nos juntos, abraçados ao sol.
as manhãs eram de um céu infinito. o nosso amor
era as manhãs. no tempo em que éramos felizes
o horizonte tocava-se com a ponta dos dedos.
as marés traziam o fim da tarde e não víamos
mais do que o olhar um do outro. bricávamos
e éramos crianças felizes. às vezes ainda
te espero como te esperava quando chegavas
com o uniforme lindo da tua inocência. há muito
tempo que te espero. há muito tempo que não vens."

José Luís Peixoto
(A Criança em Ruínas, Ed. Quasi)


A este magnífico escritor que apresenta amanhã o seu livro CAL no GaiaShopping



sábado, 1 de dezembro de 2007

E hoje é manhã


E hoje é manhã

e acordo no meu quarto
com a minha pele cheia de ti.

Mas não sabes e nunca saberás

o quanto me custa
ainda sentir-te.


Frente a frente

Hoje vi-te frente a frente
Olhaste-me e pediste-me palavras que eu só podia calar.

Sentaste-te do outro lado da mesa.
Espiaste-me.

Observei-te o jeito nervoso, a voz tímida e o desalinho interior.
Tive pena de ti e apeteceu-me abraçar-te de novo.

Mas agora sei que isso nunca mais voltará a acontecer!

sábado, 20 de outubro de 2007

Fui atrás de tudo o que já não existe



Percorri lugares
Senti cheiros
Olhei-te olhos nos olhos

Nada...

Só eu espezinhada, a transbordar de amor inútil...

domingo, 14 de outubro de 2007

Eu sabia

Eu sabia que acabaria por acontecer...

A fraqueza, a falta de dignidade...
Rastejei, pedi, enlouqueci por um abraço quando te sabia quente de outra mulher.

No acordar da manhã o sentido do fracasso, o vómito de mim.
Quem sou afinal?

A loucura começa a invadir-me de mansinho e perco o sentido de estar aqui.

A solidão é enormemente RUIDOSA

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

O tempo vai mudar

O tempo vai mudar outra vez!
Só o meu relógio interior parece estagnado!
A noite não passa e o sono e o cansaço chegam intermitentes.
De todas as vezes que acordo procuro a manhã, ruídos, cães... mas o nevoeiro cobriu a minha rua, a minha casa branca, a minha cama de ferro e a minha alma.
O ar pesado não me deixa respirar.

Ficou tudo suspenso, inacabado!
Ficou tudo a meio neste projecto.
Só eu perdida nesta imensidão...

Invade-me um frio interior.
Dá-me um abraço, dá-me algo a que me possa agarrar!
....
Ninguém,
Só o vazio, o vazio, o vazio sem fim... incomensurável.

E choro, choro nesta casa vazia, sem vida de ti e de mim, neste ano de todas as perdas.

Ainda sinto o teu cheiro

Procuras o cheiro de outras mulheres mas não sabes que ainda sinto o teu cheiro.

Quantas vezes arriscaste?

Quantas vezes arriscaste? Muitas.

Quantas vezes perdeste? Sempre.

E o que fazes ainda viva? Nada, porque já estou morta.

Num canto da noite...

O meu estômago está vazio.
A minha cabeça está confusa.
Mas eu estou viva a sentir cada palavra que não existe, a sentir cada olhar que não chega, a sentir cada afago que se perdeu algures, num canto da noite.

Saber de ti mata...

Saber de ti mata-me.
E choro sem que isso me alivie.
Choro porque partiste e porque te quero ainda,
Choro porque te deixei ir, caminhando sozinho por entre o asfalto e o sapal...
Sei que se não fosse assim me matarias lentamente até me consumires o último sopro.

Também sei que a vida é inevitável…
Que tens o direito de procurar, de encontrar, de sonhar…

Sei tudo isso mas sofro que nem um cão atropelado na beira da estrada.

Queria-te todo para mim.
Sempre...no fim da tarde, no amanhecer, no dobrar da esquina...

Queria-te doce, tranquilo, criança ainda...

Pensas que não volto
e nem sonhas o quanto te desejo ainda, em silêncio,
na solidão do meu quarto.


7 de Outubro de 2007